segunda-feira, 9 de abril de 2012

Tudo Pedro


Estava Pedro sentado com as costas no encosto, os óculos escorregavam pelo rosto suado, a cabeça pendurada estava a olhar o chão, seu cigarro pousava no incensário, há muito salpicado de cinzas da nicotina. O dia estava claro, mas somente gotas de luz entravam pelas frestas enegrecidas da madeira velha.
Pedro tragou. Pousou. Esperou.
Parecia que uma atmosfera elefante se instalara ali, e só isso restara. Tudo estava abandonado, os móveis, o teto, o outro quarto, os brinquedos, tudo estava empoeirado, Pedro estava empoeirado. O papagaio já não estava empoleirado, voara também, precisava de “novos ares” também, também viveria feliz e talvez também desejasse o melhor pra Pedro. Seu coração já nem se sentia pedra, mas a cabeça se sentia apedrejada. Pedro suspirou, olharia pro relógio se ele existisse, e quase se aborrecia com a demora.
O telefone tocou. De repente tudo levantou vôo, o cigarro, a escuridão, o suor, os óculos. Pedro estirou a mão para atender, um raio de esperança germinava de sua fotossíntese e então estacou. Pedro petrificou, a mão já não tencionava, o peito já não repousava. Será que tudo estava voltando? O telefone prosseguia tocando enquanto o veneno fazia efeito, e então, Pedro caiu da cadeira, derrubando a mesa, o cigarro, o incensário. Tudo sujou sua roupa suada e a cinza do cigarro fez uma sopa indigesta com o suor do homem. A dor lancinante apagou as luzes do aposento e o telefone então parou de tocar... e Pedro parou de respirar.

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