quarta-feira, 4 de abril de 2012

Homem-Peixe Homem-Lua


Se a lua não fosse tão distante
Talvez me ouvisse ressoante
a exaltar-te belo canto

Se meu pranto não fosse uno
Me sentiria cardume
e a lua cairia no mundo

Óh, lua aprisionada
pareces tão perdida
no meio da chuvarada

E quando passar a tormenta
há de dissipar-se a cinzenta
massa fria a qual me lamento

Mas se fosses de maresia
encararia a tempestade
em corpo de peixe, fazendo sua parte

Se fosse conjunto não morreria
Serias eternizada
Lua bela e solitária
E sedentária

Eu condeno tua vida
condeno a melancolia
e a calmaria em que te assentaste

Tudo pode lhe acontecer
e tudo acontecerá
homens, máquinas, pedras, luzes
e sofrendo sempre estarás

Óh, corpo paralisante
que de excitante não tem nada
só há contemplação

Talvez o carma dela
seja um nosso, a vaidade
de se olhar no mar
projetando uma vontade

E o carma do pobre peixe?
Talvez seja a comunidade,
pois se andas deslocado
és caçado e aprisionado...

e solitário

Se a lua fosse peixe
talvez acabasse bife,
mas viveria livre
num mundo de esquisitice

Lá em cima flutua condenada
Sem maior afetação
só a de ser contemplada
contrapondo sua intenção

E voltamos à vaidade
à vontade tantalizante
Seremos belos como a lua
se formos peixes praticantes.

2 comentários:

  1. Você escreve muito bem.
    A princípio vi a poesia longa pensei "vou ler um pouco, só.." mas quando me deparei, já estava no fim, querendo mais e mais.
    Leituras boas são essas, de fácil compreensão, que quando você vê, já acabou e você quer bis.
    Parabéns Lucas. Continue assim.

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  2. Que linda poesia! Nos faz viajar... Chegar até a lua com as suas palavras...

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