terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Crítica de "The ArchAndroid" - Janelle Monáe

Ainda estou bem cru do segundo álbum de Janelle Monáe, o The ArchAndroid, mas o que escutei até agora me deu coceiras de escrever qualquer coisa sobre ele. Bem entendido ou não, aí vai minha resenha para este disco.



O disco começa com Suite II Overture, que mais parece aquelas músicas de abertura para o filme em que um livro mágico mostra na tela o nome dos envolvidos na super produção. O título Suite II é na realidade uma forma de dar continuidade ao trabalho de Janelle Monáe, já que seu primeiro disco se chama Suite I. A maluquice então começa de fato começa com Dance Or Die, que tem algo da Madonna de hoje e a Britney de ontem. Janelle aqui mostra seu lado rapper e narra uma letra contemporânea sem sentido claro, mas ao decorrer da música, a experiência se torna muito original e agradável.

A música então se transforma em Faster, que tem algo de blue dos anos 80. Janelle aqui está perfeita, a canção animada acaba em Locked Inside, que lembra muito Simply Red, só que mais surpreendente. Esta também é dançante e tem a pretensão de nos fazer viajar nos arranjos perfeitos e deliciosos, e consegue. Locked Inside é festivo e fino e, sinceramente, merece um clipe futurista. Janelle Monáe parece que será como Corinne Bailey Rae e Macy Gray, que são donas de canções divinas, mas que não estão na boca do povo... e por acaso o povo lá sabe o que é bom?

Anyway, o disco prossegue com Sir Greendown que soa como uma pausa bem down no clima do álbum. A canção é curta, taciturna e encantadora, como tudo até agora. E então Cold War, um de seus singles, começa quebrando o clima da quebra. Aí o cd acelera de novo, com uma faixa empolgantemente triste. A cantora parece desapontada nesta faixa, tudo contribui para este sentimento: sua voz, os arranjos, as pausas, e ela tem razão, pois fala de uma separação que está em guerra fria. Tem algo de Charleston aqui. O fim da música é acoplado ao seu single de estréia, o Tightrope, que nos faz reconhecer a artista. Tightrope parece uma continuação mais descontraída de Cold War, com Big Boi aos vocais também, revela o lado “marketeiro” de Janelle Monáe. A música não se estabiliza por um segundo, de repente temos estrofe, refrão, rap, bridge, tudo ao mesmo tempo, sem ordem estabelecida e fazendo da faixa jus ao clipe que ela tem, um sanatório. Neon Gumbo é como um devaneio, uma loucura sem nexo, só sentidos. É, na realidade o final de uma outra música sua, Many Moons, só que tocada ao contrário. O que faz da música um som assutadoramente interessante.

Em seguida temos Oh, Maker, que dá a primeira impressão de que a normalidade voltou ao disco. Soa como uma música de elevador bem agitada para os padrões. Mas ela só quer dizer que o surpreendente era que o viver da pessoa para quem ela canta, era o viver dela. A faixa vai indo embora aos poucos, deixando o ouvinte solitário. Um instrumental difuso volta e se vai rapidamente, trazendo Come Alive (The War of The Roses), que lembra um pouco do "The Black Parade" do Chemical Romance. Aqui, Janelle fala de um esquizofrênico e só. Pois Mushrooms & Roses traz de volta o espírito pacífico do disco, mas de uma forma robótica, de voz alterada quase não entendível. A narradora aqui parece se encontrar fora de seu estado comum, como drogada ou bêbada. Mas Suite III Overture, a continuação da faixa de abertura, traz de volta o clima abertura de filme de aventura-mistério, e abre as portas para o segundo ato.

Neon Valley Street abre a segunda parte do disco, mais mágica eu diria. A música tem um quê de romance da novela das nove, com pitadas de motel e elevador, mas é envolvente como sexo e quente como um local abafado, tipo, debaixo das cobertas. Uma voz robótica continua a declaração de amor mais esquisita que eu já ouvi. A canção se vai, nos deixando a imagem aérea do casal que está pronto pra fazer o dia nascer feliz. Uma narração obscura leva a canção embora e traz Make The Bus. Make The Bus é um mix de Britney Spears, com Eurythmics e New Order. A letra parece trazer a fantasia da canção seguinte, Wondaland, que se encaixaria perfeitamente num filme de “Alice no País das Maravilhas”.

A suave 57821 narra mais um conto de amor esquisitamente frio. Esta frase sintetiza bem o espírito da música: “Tão certo quanto o sol, continua brilhando em seus olhos e ela sempre estará esperando por você”.
Say You’ll Go é o começo do fim. Ela fala do amor etnicamente, deixando os leigos de queixo caído com tanta informação desconhecida no meio. O arranjo tem algo de egípcio, que traduz a capa do disco, que mais parece um enigma difícil de decifrar que qualquer outra coisa. O piano despede-se lentamente trazendo em clima de suspense BaBopByeYa.

A última faixa do disco se inicia como a primeira, mas traz consigo um release do que foi o The ArchAndroid. Parece início de super produção, tem sua letra contemporânea, o lado música de elevador, o clima blues, a calmaria, o clima down, é fina, empolgante, mágica, romântica, fantasiosa e suave.

Estes são os adjetivos perfeitos que descrevem a alma de The ArchAndroid, que fazem de Janelle Monáe uma artista contemporânea de um disco finíssimo e muito original, porém, o disco não deixa de ser misterioso, cheio de referências de seus outros trabalhos e personagens e andróides e histórias de amor. Vale a pena tentar decifrar ou ser devorado.

Uma das que eu mais gosto:

[Locked Inside]

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