sábado, 25 de fevereiro de 2012

Idiossincracia

O que Marília via era uma comitiva de formigas andarilhas, que percorriam sua vida de maneira degenerativa, pouco convidativa. Já faziam dias que não recebia visitas, a roupa se desfazia, os móveis se desfaziam, até sua auto estima se desfazia. Tudo era levado pelas inimigas unidas que não desistiam de seu objetivo de vila.
E já tentara de tudo, de venenos a outros seres pequenos, tentou matar, tentou tamanduá, tentou molhar e nada... só o que fazia era ver sua figura que jazia encostada, sem poder fazer nada.
Um dia, sua melancolia lhe tirou da apatia. Resolveu, de supetão, seguir aquele cordão que lhe causava comichão. A fila dava no porão, pra sua surpresa. E tudo estava uma beleza. Todos os mantimentos, tirados sem o seu consentimento, estavam dispostos como negócio: o que seria consumido, o que seria abatido, como seria dividido; tudo estava organizado, até o que seria usado, suas roupas, seu armário!
Enquanto paralisada, travou em si uma batalha, que mudou sua idéia e, consequentemente, sua cara amarela. Transformou então a sua vida.
O que Marília via era sua figura de tia, antes sozinha, sem ninguém, agora parte da cooperativa. Tudo o que fazia era carregar o que havia para dentro do lugar, que tinha coisas que há muito tempo não conseguia enxergar. Marília, nesse dia, se tornou parte das formigas, e o que antes não tinha vida, agora sentia que existia.

Um comentário:

  1. Acho que é a primeira vez que visito teu blog e gostei bastante desse texto. Tu escreve tri bem! Vou te visitar mais vezes. ^^

    :*

    http://hey-london.net

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