terça-feira, 10 de abril de 2012

Ausência

Marília se cobriu com o lençol branco, se sentou em sua cama branca de fronha clara e olhou pras paredes alvejadas do seu quarto. A porta branca, cerrada, lhe causava uma sensação que não conseguia desbloquear. Coberta de branco, se levantou, foi até a bolsa transparente esquisita e tirou um chocolate branco de embalagem colorida.
Abriu.
Comeu.
Nada podia bater aquela sensação agonizante de prazer que entrava pela boca e lambia a garganta docemente, incrívelmente.A saliva escorreu e Marília então mordeu novamente, eloqüente.
Acabou.
A luz branca piscou e Marília se assustou.
Olhou de novo pras paredes brancas e se abaixou, tirou mais um chocolate branco de embalagem colorida e o engoliu.
Atraída pela porta, tirou-a de sua visão e seguiu o corredor. Passou pela tinta branca que penetrava na parede quase que emocionalmente, e desceu os degraus brancos rumo à geladeira.
Abriu.
A luz branca a invadiu, a vontade também.
Dentro daquele ambiente aguado, havia uma infinidade de chocolates brancos cobertos com uma embalagem colorida.
Deprimida, Marília puxou uma cadeira branca, sentou-se e, iluminada pela luz branca da geladeira, apreciou os chocolates brancos de embalagem colorida, ignorando a cândida lua que a observava do lado de fora da janela bege.
As únicas coisas que ficavam fora de Marília eram as embalagens coloridas, que iam sendo jogadas no chão, à medida que os chocolates iam pra dentro, a fim de curar o que ela não podia ver.
Fazia frio fora e dentro do lençol.

6 comentários:

  1. Bem real o exto.
    A ausência faz coisas nas pessoas.

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  2. São capítulos de seu livro? Pretende publicar?
    Não sei fiquei triste, achei-a solitária, mas você escreve bem!

    Obrigaaada por seguir!
    Beijos!

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  3. Oii.
    Quanto à seu título acho que a maioria caminha morta (era uma pergunta ;)) pois a tarefa mais difícil neste mundo é pensar, e pensar de verdade. Por isso a maioria não faz.

    E se não guiamos à nós mesmos, se não mandamos em si mesmos ALGUÉM fará isso por nós.

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  4. Adorei o texto, incrível como realmente nos transmite uma sensação "branca", de ausência, de solidão, de tristeza. Escreve muito bem, seus textos são profundos, gosto disso.

    Abraço. =)

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  5. Primeiro imaginei quão deprimente deve ser um ambiente todo branco. Uma vida toda branca.
    Depois pensei, o branco, o branco é de fato a junção de todas cores do espectro de cores. O preto esse sim é deprimente, ausência de luz. O branco trás a angústia, o aperto no peito e ao mesmo tempo a paz. Marília deve estar confusa, sofrida, e apesar de nós meros leitores, enxergarmos nitidamente as embalagens coloridas, para Marília, as embalagens devem ser brancas, assim como tudo é. Vazio, vazio, vazio... triste

    Parabéns você sempre me surpreende.

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  6. muuito bom o texto!

    passa la? opinioespromundo.blogspot.com.br

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