quarta-feira, 20 de julho de 2011

Relógio. Horário. Minuto marcado. Escravo. Na hora. Estresse. Memória.

Ultimamente tenho me estressado mais, ficado mais irritado com as situações e definitivamente mais envolvido com o mundo que me cerca. Minha calma e paciência perderam pro dia-a-dia, pra rotina, pro horário.
Eu nunca quis ser uma pessoa regrada, com horário pra acordar e pra dormir, pra entrar e pra sair. Tenho tesão naquilo que vai contra o manual de instruções diários e não lógicos que seguimos religiosamente.
É que esse negócio de acordar cedo, trabalhar, voltar pra casa, jantar, dormir, acordar, trabalhar... todos os dias, só funciona quando não se tem um objetivo. Eu tenho um objetivo, e não gostaria de ser uma pessoa intolerante, quadrada, como milhões que convivemos por aí.
Mas então, minha insatisfação com tudo e todos foi esquecida assim que conheci a Neli.

Nos encontramos no ponto de ônibus, Neli era uma senhora ativa, que puxara papo comigo sobre o atraso do ônibus e sobre fones de ouvido e o volume da música. Não quis ser daqueles intolerantes que respondem com monossílabos e fogem do assunto, afinal, valia a pena analisar a companhia e me convencer de que compartilhar histórias é sensacional.
Pois então fomos dialogando no ônibus e depois no trem. Ela me contou sobre sua turma no supletivo, as gírias de suas netas, a saúde de sua mãe, curiosidades sobre Jesus, elogiou minha voz e debatemos sobre sedentarismo. Nesse ínterim, citei minhas queridas ex-alunas e sua incrível disposição. De nada nos gabávamos, pelo contrário, até nos despedimos, já em outra cidade, com um beijo e um abraço de velhos amigos e nos desejando boa sorte antes de nos virarmos cada um para seu lado.

Segui sorridente o meu caminho, pensando na agradabilidade de nosso encontro que fizera o TEMPO passar mais depressa e mais leve.
Mais uma vez desafiei o relógio e fiz quase tudo que planejei fazer naquele dia. Já a noite, outra vez num outro ponto de ônibus, conheci Jaqueline.

Jaqueline era uma garota sorridente, de 18 anos, estudante de Psicologia. Perguntou-me sobre o horário do ônibus e então, de uma maneira que nem me lembro, foi me contando sobre sua confusão sentimental em aceitar ficar com um garoto que era paquerado por muitas meninas. Pacientemente a ouvi e, enquanto ela me falava, me bateu um sentimento que há muito não batia, a sensação de maravilhoso mundo em que minha vida estava... só por causa desses momentos, entende? Era sensacional poder ouvir as pessoas falando, ao invés de resmungando.
Aconselhei-a, contei sobre mim e meu trabalho, ela sobre o dela e então um dos ônibus que eu deveria pegar veio, mas o ignorei, esperei o próximo e fui com ela para papearmos um pouco mais.
Tão logo como começara a nossa conversa, acabou. Ela prometeu me contatar nas redes sociais e me contar o desfecho de sua histórias amorosa, e então, parti novamente, com um sorriso satisfeito estampado no meu rosto.

Nessas relações que começam e acabam bruscamente, constatei mais uma vez o quão escravos do relógio somos e que a rotina poda nossa paciência e calma diante de qualquer coisinha que sai do lugar. Temo reclamar demais e agir de menos, pois assim fujo do que acredito. Não arranca pedaço conversar com pessoas desconhecidas, afinal, são apenas pessoas, e são doloridas e deliciosas, assim como eu...

4 comentários:

  1. Amei o post muito e por muitos motivos, Lucas. Sou daquelas que usam muito o caminho para pensar e trabalhar, e, por isso (mea culpa!), nem sempre estão abertas a novos amigos possíveis. Falha grave, gravíssima. Outro dia tentei fazer diferente e arranjei amizade com uma indiana hare-krishna na fila do supermercado. :-) Realmente divertido encontrar histórias pelo caminho. Espero arrumar tempo de ficar mais permeável. Beijos, boas histórias e sucesso! Gracinha, ocê!

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  2. A vida realmente prega muitas peças. Conhecemos pessoas que depois talvez jamais tornaremos a vê-las, mas que fazem um diferencial e tanto na vida.

    http://duo-postal.blogspot.com

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  3. Que delícia de texto.. realmente perdemos muito por não saber e não termos interesse de estarmos abertos para os pequenos acontecimentos e encontros do dia-a-dia, que certamente tem um dom gigantesco de nos fazer mais felizes...

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  4. seu texto ficou muito bem aquitetado. me fez refletir sobre muitas coisas. parabéns.

    http://manuscritoperdido.blogspot.com/

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