Quando tornava-se sério ou aborrecido, caía-lhe o resto do rosto, sustentado pelos cílios inferiores, talhando seus olhos em frios e indiferentes, quase cruéis; a boca, habitualmente carnuda, era agora quase uma linha de tão fina.
Era este rosto que fitava o espelho, especificamente nos olhos, com um mundo de engrenagens invisíveis funcionando dentro do crânio, este já coberto de inutilidades. Pedro desviou os olhos e abocanhou seu copo de café semi frio com conhaque, bebeu, engoliu, suspirou. O rosto ainda caído apontou para o fundo do copo e um quase nada de satisfação perpassou seu interior... Nada como um pouco de álcool para compensar um coração aflito.
O medo inconsciente que tinha de si próprio o levou a caminhar até o incensário e dar-lhe função. Em seguida acendeu outro cigarro, sentou-se à poltrona velha e olhou a vaga claridade que entrava da janela. Cerrou o cruel olhar e divagou em sua mente, longe de meditar, sentiu os lábios se descontraírem pouco a pouco e iniciou em si um processo de putrefação externa: Pedro acordava dolorido, comia solidão, passava a tarde vazio, bebia amargurado, fumava inerte e dormia agoniado. Era em si um enterrado, era o fim de um presidiário, pois os presos tinham companhia, Pedro nem tinha sábado.
Na segunda da segunda fuga, em que as pulgas faziam mais sentido, Pedro se viu ensimesmado confrontando um outro frasco, que não os de alegria engarrafada, era um traço de caveira que lhe causava vertigem no olhar. Pedro nem tinha sábado...
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nossa, bem dramáticoo =) muito bom o textoo e o blog também, parabens
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Só lamento pelo Pedro...por beber alegria em garrafa..Deveria ter procurado outros meios menos ardidos que este!
ResponderExcluirPOSTAGEM: O verdadeiro Cristianismo?
Escritor de Brinquedo
<<EDB2012<<
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