segunda-feira, 8 de março de 2010
Etnos - uma viagem cultural através da música e do movimento (Crítica do espetáculo por Nuti)
O espetáculo tem um começo perfeito, Skarabush, uma excelente entrada marcada de saltos e percussão corporal de tirar o fôlego, os personagens são apresentados e em seguida dissipados. E então temos o princípio da narrativa dos dois casais, com uma cena que pode deixar algumas pessoas com um ponto de interrogação na cabeça. A cena nostálgica da Canção Kayapó pode fazer algumas pessoas bocejarem durante o trajeto, mas emociona até aqueles de coração mais duro.
O Bloco Africano começa com uma cortina de gente que varre os menininhos das cordas e traz um Gumboot muito bem executado de velocidade e precisão impressionantes! E então temos o Quenda, um Lundu de Marcus Vianna cantado pelas quatro apresentadoras do figurino deste bloco, uma balada empolgante é seguido por um contemporâneo Kinkinarun, marcado como o início do espetáculo para os atores em cena. Logo em seguida vem a cena dos Encontros, que pode parecer bucólica, mas tem um fundo sentimental de extrema importância em relação à mensagem que Etnos tem como objetivo. Essa talvez seja a cena de maior importância em todo o espetáculo!
Pra quem gosta de coreografias com muita estética, aí vem o Cairo, da mesma coreógrafa. Um quadro perfeito marca o fim da cena dos encontros, onde mostra a viagem dos personagens por uma terra cheia de mistérios e beleza descomunal. Puxados por um tecido vem o elenco de Salamalekum, um número de tirar o fôlego de arte circense aérea, em tecidos e lira, com performances excelentes que arrancam aplausos antes mesmo do número terminar.
Em seguida o espetáculo desacelera para Tregnalae/Tyuokòdi Nota, uma entrada que se encaixa perfeitamente com o Bloco Balcãs com vozes búlgaras e um duelo Czarda entre as mulheres húngaras e os personagens principais.
Depois vem Dance of Mirtus, um excelente canto grego de voz forte e coreografia expressiva. Um trapézio triplo com quatro artistas circenses faz desse número um clássico que tira lágrimas das pessoas simplesmente pela beleza com que é executado.
Talvez Metamorphose, o Troix, seja uma pausa no banho de etnia que o público está levando. Pode não caracterizar um país, mas a coreografia com elementos de dança clássica e contemporânea é eletrizante pela força dos movimentos serenos muito bem realizados pelos competentíssimos três bailarinos.
E então a sensação de pausa se acentua por poucos minutos durante a narrativa de O Tédio, fragmentos de Fernando Pessoa. Dá-se a volta dos personagens principais, ausentes durante os dois longos números anteriores. A cena delata o afogamento por informação e a loucura de ter tanta coisa na cabeça, mas não conseguir fazer nada com elas. Aí então começa o que parece ser o Segundo Ato do show, com a introdução do número circense acrobático, um dos preferidos da platéia. O artista da mão-jota e os dois pernas-de-pau são a abertura perfeita para os seis minutos seguintes que a platéia está para saborear com uma música irlandesa de Lord of The Dance!
La Novia Destrenza Em Pelo é uma cena de ciúme entre um casal principal. Muito bem humorada marca a abertura do Bloco Espanhol, seguida pelo Fandango para Isabel. Aqui a Cia. Rhytmus In Corpus está de volta, com um flamenco moderado e nada parado, comparado à performance de Tyuokòdi Nota. E então, um flamenco veloz e delicioso entra com Tango de los Chavicos. O Bloco Espanhol talvez seja o melhor narrado, com o sub tema ciúmes, e encerra de forma dançante e contagiante.
E então o espetáculo desacelera mais uma vez para o Bloco mais longo do show, o Indiano. Os protagonistas começam com um curto e belo louvor à deusa Kali, dando abertura para mais uma mudança de cenário. Incensos e um túnel criam o clima perfeito para o misticismo do mantra Hara Hara Gurudeva, acoplado a um Bharatanatyan rico em mudhras e detalhes surpreendentes. O Kathak é o fim do Bloco mais sonolento, talvez pelas músicas mais lentas e místicas.
E então o público acorda pela chegada da personagem Courier, uma francesa amalucada que faz as pessoas passarem vergonhas pedindo opiniões sobre o espetáculo e levando a platéia às gargalhadas. O sorteio da trilha sonora e sua performance em “Gopher Mambo” são ingredientes da entrada perfeita para o Bloco das Américas, seguido pelo contagiante “Jump In The Line”, que faz o público dançar, rir e mostra realmente do que a Cia. Rhytmus é capaz.
E então vem o “Balada Para Um Loco”. O clima está excelente, acalorado, com cenário e iluminação perfeitos, o que viesse seria bem recebido. Algumas personagens assistem a execução do tango aéreo. E então, para começar finalmente dar um fim ao show, uma música espanholada de Carlinhos Brown é cantada pelos adolescentes e crianças. O público responde e grita com os “Arriba!” esgoelado por todos que fazem o que é chamado teatro.
“Pá-Bum” é uma introdução para o coco “Afrociberdelia” de Chico Science e Nação Zumbi. Essa sim é a mensagem nua e crua do espetáculo, sem nenhuma palavra executada e movimentos que fazem a releitura de “Mãe Gentil” de Ivaldo Bertazzo, com Rosi Campos.
O encarar dos atores para com a platéia numa grande roda, com luz caindo em resistência, parece o final perfeito, mas então temos de encerrar o espetáculo por completo, trazendo de volta os condutores do show num remake da primeira cena de narrativa. É a modificação das atitudes de nós seres robóticos da televisão e da cultura inútil. Mas então, o brinde é uma forma doce e singela de concluir um belíssimo trabalho.
Talvez Etnos seja uma homenagem também ao mestre do diretor, que deixa rastros discretos de sua experiência por entre as linhas do espetáculo. É também uma grande celebração à vida, à arte e à coragem e determinação. O fruto desse trabalho duro finalmente pode ser assistido milhares de vezes:
Um objeto de entretenimento recheado com making of e depoimentos das pessoas que participaram e assistiram ao show, que encerra definitivamente sua temporada 2009/2010 em Maio.
Até lá...
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Amei querido!
ResponderExcluirmuita sensibilidade com narrativa perfeita!
um beijão
Ronaldo