segunda-feira, 11 de abril de 2011

O que se tira de "PRA TODOS OS CANTOS"?

Durante a pesquisa no processo de Pra Todos os Cantos, pude notar o quanto algumas pessoas são fechadas e limitadas em suas idéias e só e, detalhe, por elas mesmas. A rotina, o cotidiano de todo mundo é igual! Trabalhar, cuidar dos filhos, quando se tem e descansar quando dá. Trabalhar faz parte da vida das pessoas, mas aliena o cidadão que, querendo ou não, se fecha numa gaiola solitária e baseia toda sua vida em trabalhar e descansar do trabalho! Pergunto-me, onde está a felicidade nisso, por mais que se trabalhe no que gosta? Onde está o olhar para o lado, onde a viseira imposta por si mesmo o impede de enxergar além?

Indaguei na rua sobre a freqüência ao teatro, não ouvi uma resposta sincera. Quem disse que visitava uma platéia não demonstrava muita confiança e havia quem se contradissesse, quando afirmavam que não iam por falta de tempo, mas que tinham o final livre pra descansar.

Talvez por minha figura excêntrica, ou pela figura de meu companheiro de trabalho e amigo, vestido de social, divulgando um espetáculo de teatro e dança, e indagando-os sobre coisas fora de seu cotidiano, as pessoas acreditavam que fariam bem aos nossos ouvidos suas palavras de “você faz isso? Então eu gosto!” Ninguém dissera que não gostava, ou que não era muito chegado ou que simplesmente não se interessava! Não consigo enxergar o problema de ser sincero.

Por essa razão a pergunta que pede franqueza íntima foi lançada a elas: O que você faz pra mudar a sua vida?

- Estudo.
- Trabalho.
- Saio de final de semana.
- Só ganhando na loteria!
- Nada!

Todos acabaram me relatando o dia-a-dia enquanto pensavam na pergunta. Era similar, do dono da banca de jornal, a quem passava na rua, a chefes de empresa... os cotidianos eram os mesmos! O que eu ouvi mudou a minha vida: a sinceridade estava no povo da rua! Foi o dono da banca de jornal que respondeu prontamente que pra mudar a vida era preciso ganhar na loteria, a moça da lanchonete, muito expressiva por sinal, disse, sem crise, que não fazia nada pra mudar (o que me inspirou na interpretação do personagem), o frentista também me respondeu, desconfiado, apesar de pensar e pensar, que nada fazia pra nada mudar. Percebi que todas essas respostas estavam embasadas no ganho de dinheiro. Natural, já que o povo não o tem!

Mas foram os chefes de empresa que se justificaram, alguns ficaram paralisados nos cinco segundos que sucederam a pergunta, mas acabaram falando, enquanto pensavam, palavras e palavras, algo até falso-filosófico, sobre o cotidiano, sobre o cuidar dos filhos, sobre o descansar... eu cheguei a ficar triste por eles.

Minha teoria de infelicidade foi confirmada. No primeiro momento todo mundo pensa em trabalhar, acoplado a essa idéia está o ganhar bem, e então o dinheiro movimenta a rotina de quem precisa sobreviver. O entretenimento fica por conta da TV, relaxante, colorida, na frente do sofá, formando as opiniões do cansado que não tem tempo nem de analisar uma notícia. A necessidade do ser feliz vai sendo consumida pelo trabalho, trabalho, trabalho, trabalho... quando se nota, a pessoa está com a mente envelhecida, limitada e chateada com o mundo que ela mesma fez. Necessidade de sobreviver todo mundo tem, mas ninguém dá muito valor à necessidade de VIVER, e sabe por quê? Porque ela não te dá salário no fim do mês!


O espetáculo esteve no Teatro Municipal Paulo Machado de Carvalho em São Caetano do Sul neste sábado, dia 09 de Abril, às 20h, como uma injeção na mente do público, procurando instigar cada um daqueles que se sentaram nas poltronas para se entreterem, a pensar se faziam algo pra mudar a sua vida!

2 comentários:

  1. Acredito que muitos, só pelo fato de assistirem ao espetáculo :( aceitar o convite,comprar o ingresso, se deslocarem até o teatro) ;quebraram a rotina...mudaram suas "vidas " mesmo que tenha sido por alguns momentos.

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  2. É triste constatar que as pessoas são tão confinadas,dominadas e conformadas com o que lhe é imposto pela sociedade.
    Pensamento viciado coletivo é o mal da especie.

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