terça-feira, 13 de abril de 2010

Harry Potter virou receita de bolo

Departamentos de marketing adoram rotular um produto como o “novo-alguma-coisa-que-fez-um-sucesso-do-cacete-faz-algum-tempo”, tentando atrair público na base do sofisma: ou você gostou do filme ou você gostou do livro ou você gostou dos dois!

Acontece que o pessoal continua tentando. Às vezes não é mera tentativa. Considerando o quanto o sucesso de um livro (ou de um filme) detona a imediata caça ao tesouro por algo que seja o “novo-aquele-outro”, é inevitável que ganhem espaço e visibilidade obras que tenham pontos de contato flagrantes com o que antes fez sucesso, para ver se a fórmula mágica se repete. Foi assim com a infindável sucessão de romances “Quero Ser Código da Vinci” lançados na esteira do best-seller de Dan Brown ou as inúmeras variações em torno do Iraque ou do Afeganistão após o sucesso de O Caçador de Pipas; conclusão: logo, você vai gostar do filme/livro também.

Depois que J.K. Rowling encerrou uma das séries literárias e cinematográficas de maior sucesso de todos os tempos ao finalmente concluir a saga de Harry Potter (que deve acabar também no cinema em 2011), abriu-se um espaço, no entendimento do mercado editorial, para que esse posto fosse ocupado – e foi assim que ganharam a luz do dia filmes como A Bússola de Ouro, baseado na série de Philip Pullmann, Coração de Tinta, adaptação do romance de Cornelia Funke, ou a malfadada Eragon, para citar só alguns. Esses três exemplos que eu citei ganharam também o direito de ocupar as livrarias em edições bem cuidadas.

No fim do ano passado chegou aqui no Brasil, por artes da editora Intrínseca, a série Percy Jackson e os Olimpianos, que a esta altura, como vocês já sabem, também virou filme, Percy Jackson e o Ladrão de Raios, que andava passando pelos cinemas por aí.

Escrita ao longo da última década pelo professor americano de ensino médio Rick Riordan, a série já vendeu (de acordo com a editora, é sempre bom lembrar) nove milhões de livros no mundo todo - 130 mil deles no Brasil, onde já saíram quatro episódios: O Ladrão de Raios, O Mar de Monstros, A Maldição do Titã e A Batalha do Labirinto. Com esses números, não demorou para a série ganhar o apelido de “O Novo Harry Potter”. O que me surpreendeu ao encontrar essa crítica que eu, Nuti, estou escrevendo agora, pois no conteúdo dos quatro livros, essa qualificação cai como uma luva, não se restringindo apenas a um chamariz marqueteiro. De fato, se abstrairmos o pano de fundo de ambas as narrativas (bruxaria no primeiro e mitologia grega no segundo), há muito mais semelhanças do que diferenças, como vocês podem ver abaixo:

PJ




HP

O mito herói

PS: Percy Jackson, jovem desajustado que, aos 12 anos de idade, descobre que, por fatores especiais de hereditariedade e nascimento, tem os poderes especiais de um semideus.
HP: Harry Potter, jovem desajustado que, aos 11 anos de idade, descobre que, por fatores especiais de hereditariedade e nascimento, tem os poderes especiais de um bruxo.


A formação

PS: Ao se descobrir um semideus, Percy é enviado para um acampamento de verão lotado de outros semideuses como ele, onde vai aprender a usar seus poderes e às vezes se meter em encrenca confrontando a figura autoritária do administrador, o deus Dionísio.
HP: Ao se descobrir um bruxo, Harry é enviado para um colégio interno lotado de outros bruxos como ele, onde vai aprender a usas seus poderes e às vezes se meter em encrenca confrontando a figura autoritária do professor Severo Snape.

Os parceiros fiéis

PS: Em suas aventuras, Percy Jackson conta com a ajuda de uma colega bonita e muito inteligente (mais até do que ele) chamada Annabeth, filha da deusa Atena, e de um sátiro atrapalhado, mas leal e de bom coração, chamado Grover.
HP: Em suas aventuras, Harry Potter conta com a ajuda de uma colega bonita e muito inteligente (mais até do que ele) chamada Hermione e de um bruxo atrapalhado, mas leal e de bom coração, chamado Rony.


O lar humano

PS: Percy começa a história vivendo com a mãe e com o padrasto Gabe, um sujeito repulsivo e mesquinho que o trata mal e o tiraniza – mas que, por ironia, é o elemento que o manteve seguro durante a infância, a salvo de seus inimigos.
HP: Harry começa a história vivendo com seus tios e seu primo, sujeitos repulsivos e mesquinhos que o tratam mal e o tiranizam – mas que, por ironia, formam o elemento que o manteve seguro durante a infância, a salvo de seus inimigos.


O vilão

PS: Todas as agruras sofridas por Percy em suas jornadas e aventuras são devido a maquinações de Cronos, o Deus do Tempo, um vilão cruel e manipulador que, outrora todo-poderoso, agora é, pasmem, uma sombra incorpórea lutando para recuperar seu poder e até mesmo sua forma física.
HP: Todas as agruras sofridas por Harry em suas jornadas e aventuras são devido a maquinações de Voldemort, senhor das Trevas, um vilão cruel e manipulador que, outrora todo-poderoso, agora é uma sombra incorpórea lutando para recuperar seu poder e até mesmo sua forma física.


A profecia

PS: Percy é estigmatizado por uma profecia segundo a qual um semideus, jovem filho de um dos três grandes deuses irmãos (Zeus, Poseidon e Hades) está destinado a mudar o curso da história e a destruir ou salvar o Olimpo. Embora tudo aponte para ele, a profecia muito bem poderia se aplicar a outros dois semideuses que aparecem ao longo da história, um deles filho de Zeus e outro, de Hades.
HP: Harry Potter é estigmatizado por uma profecia segundo a qual um jovem bruxo (parente dos trêm irmãos Peverell) nascido no final do mês de julho estaria destinado a mudar o curso da história e a derrotar Voldemort. Embora tudo aponte para ele, a profecia muito bem poderia se aplicar a outro bruxo, Neville Longbottom.



[Créditos a Carlos André Moreira do Mundo Livro]





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Um comentário:

  1. Noossa, eu ja tinha percebido isso também (Crepúsculo, Percy Jackson...) Mas não imaginava que fosse TANTO dessa forma! Que falta de criatividade >.<
    Muuuito mais HP!!! ♥

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